Trabalho da Deputada Federal, Tia Eron é destaque no jornal internacional, El Tiempo

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Com a frase ‘A questão é simples: um negro já nasce condenado’ :Tia Eron, acerca do racismo, a reportagem de âmbito internacional destaca o trabalho da deputada federal (PRB-BA) no Brasil, sendo assinada pela jornalista Valeria Cuevas Gonçavez, e publicada na última quarta-feira (30) pelo jornal colombiano, El Tiempo, um dos periódicos mais conceituados da América Latina.

No texto, temas como o combate a corrupção, a luta contra racismo e violência de afrodescentes foram abordados, tendo a atuação da parlamentar republicana como referência no Brasil.

A cassação do então presidente, Eduardo Cunha, também ganhou destaque no enredo da matéria, citando que a votação da deputada Tia Eron foi decisiva para que o parlamentar deixasse o cargo por ato de corrupção.

“Não é fácil, não é uma decisão que alguém faça sorrir, com alegria, com prazer. É uma decisão que você deve parar, estudar, refletir, analisar e se preocupar. Dentro do próprio parlamento conformado por 22 membros, 18 deles tiveram processos, começando pelo próprio presidente do Conselho de Ética, que teve cinco. Meu discurso foi muito pedagógico, foi com o sentido de criar uma reabilitação daquele colega parlamentar. Havia uma mulher lá para resolver o processo mais longo da história do Brasil, e quem era aquela mulher? Nordestina, negra, viúva, de primeiro mandato, evangélica”, lembrou a parlamentar.

No bate-papo que teve a presença também da deputada Federal, Jucelia Oliveira Freitas, conhecida como Tia Jú (PRB-RJ), a deputada baiana, Tia Eron falou do significado em ter recebido o mais recente Prêmio de Reconhecimento Afrodescentente, na colômbia no dia 20 de maio e ressaltou a importância de combater o racismo no Brasil e na Colombia.

“Não importa onde você está ou no país que é, certamente, de acordo com a sua melanina ou tom de pele que irá levá-lo a sofrer qualquer tipo de discriminação, no Brasil, hoje, é crime, enquanto na Colômbia não.  A questão racial é uma questão de direitos humanos. O Pacto de São José da Costa Rica precisa ser levado à Colômbia, para que o racismo seja classificado como crime”, disse a deputada Tia Eron a jornalista colombiana.

 

Por Carluze Barper

 

Clique na reportagem: http://www.eltiempo.com/mundo/latinoamerica/la-diputada-brasilena-tia-eron-habla-de-su-trabajo-con-afrodescendientes-223520

Leia na íntegra a reportagem traduzida:

 

 ‘A questão é simples: um negro já nasce condenado’: Tia Eron

Voto do deputado brasileiro determinou saída do presidente da Câmara. Foi premiado na Colômbia.

 

A deputado federal Eronildes Vasconcellos, conhecida como Tia Eron no Brasil, recebeu um Prêmio Afro do Ministério do Interior colombiano no Dia Nacional Afro-Colombiano, comemorado em 21 de maio, por sua contribuição com políticas públicas para mulheres, pessoas em situação de incapacidade e população afrodescendente. A parlamentar é reconhecida em seu país depois que sua votação foi decisiva para que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, deixasse o cargo por corrupção.

TEMPO conversou com o deputado do Estado de Salvador e também com Jucélia Oliveira Freitas, conhecida como Tia Ju, vice para o estado do Rio de Janeiro, que também recebeu um prêmio no Teatro Colón.

ET- Como você recebe esse reconhecimento na Colômbia?

TIA ERON– Esta é a segunda vez na Colômbia para abordar a questão do racismo, um problema que persiste até mesmo com todos os avanços que as políticas públicas proporcionaram no Brasil à população afrodescendente. No entanto, não somos capazes de superar as taxas de violência, os dados ainda são bastante perversos e nos assustam.

Em 2013, tive a oportunidade de ver comportamentos de racismo muito semelhantes aos do Brasil. É por isso que temos que tratar a questão racial como uma questão de mundo, do planeta. Não importa onde você está ou no país que é, certamente, de acordo com a sua melanina ou tom de pele que irá levá-lo a sofrer qualquer tipo de discriminação, no Brasil, hoje, é crime, enquanto na Colômbia não. Isso me incomoda, porque a consciência racial na Colômbia, mesmo que seja um confronto e as autoridades são convidadas a lidar com isso, ainda não é um crime.

ET- Por que é importante classificar o racismo como um crime?

TIA ERON -A regra é que o ser humano, quando nasce, não pode escolher seu tom de pele, a cor dos olhos ou como vai ficar o cabelo. A questão racial é uma questão de direitos humanos. O Pacto de São José da Costa Rica precisa ser levado à Colômbia, para que o racismo seja classificado como crime, porque os negros ou afrodescendentes continuam sendo vítimas de violência.

Junto com Tia Ju Enfrentamos o problema com uma pirâmide na qual destacamos como o crime de racismo é dado ao homem negro com a mulher negra e o jovem negro, que é hoje um dos maiores problemas que discutimos no Brasil . Nós chamamos isso de ‘genocídio’ de nossos jovens. Nos finais de semana, o número de mortes violentas está aumentando.

ET – Como você vê a foto na Colômbia?

TIA ERON -Na Colômbia há um caso perigoso de simbiose: “Eu sei que o racismo existe, mas nunca sofri”. O negro colombiano é um negro que tem uma identidade relativa, porque não se discriminou, razão pela qual é difícil enfrentá-lo como crime ou penalizá-lo. O Brasil avançou em questões de direito, somos bastante reguladores, precisos, rígidos. Mas mesmo isso não está conseguindo acalmar ou acabar com as taxas de violência contra uma população de afrodescendentes que chega a 53% dentro de um país composto por 200 bilhões de pessoas.

ET- Como você lida com o racismo com o seu trabalho no Brasil?

TIA ERON -Eu fiz parte de um secretariado no ano passado sobre assistência social e combate à pobreza. Lá conseguimos obter alguns dados com alguns filtros de benefícios que temos dentro do programa. Um desses benefícios é o ‘funeral’. A família que se declara pobre tem o direito de receber um caixão. O maior número de caixões que entregamos foi no ano passado quando começamos no Rio de Janeiro com 64 unidades. O Rio de Janeiro tem um sério problema de ocupação de territórios e de fato de ações criminosas.

Não é normal chegar a um fim de semana e 64 jovens morrem, mesmo que seja uma morte por agressão entre si ou pela polícia. Vejo que no Rio de Janeiro toda morte de um jovem negro dá a impressão de que ele era um criminoso, e não é assim. Em junho, já estávamos ultrapassando 200. Scare.

ET- Como o assassinato de Marielle Franco afetou os jovens?

TIA ERON -A questão específica de Marielle Franco, como parlamentar, mulher, negra e militante impactou. É necessário sair às ruas e fazer um protesto, isso cria um mecanismo de pressão com o governo e o assusta. Mas, no fundo, protestar não resolve nada, porque ir às ruas nos deixa indignados.

TIA JÚ- Neste ponto, Tia Ju (JU) intervém: Marielle estava envolvida em questões de direitos humanos, porque ela praticamente mobilizou a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. Ela era uma mulher esplêndida no sentido de luta, ela enfrentou tudo em que ela lutou e defendeu. Marielle articulou as ações para que a política pública de enfrentar a situação que ela discutia e enfrentasse se efetivasse. Para isso, ele tinha um dom de articulação política no sentido de adicionar outros à mesma luta, à mesma militância.

É isso que esperamos, isso não morre. Saia do discurso da mobilização e vá praticar para trazer um resultado efetivo. Ela não teve tempo para fazer o que queria, mas deixou essa mensagem muito forte, especialmente para os partidos de esquerda.

ET- Qual projeto você está realizando neste momento no Brasil?

TIA ERON -Com articulada mobilização acção conjunta UNICEF, lançamos em maio passado 10 uma luta comitê e matando homens negros pobres que desejam passar para os outros estados do nível da federação e do mundo. Além disso, contribuímos com a Comissão dos Assuntos da Criança e do Adolescente no plano legislativo do Rio de Janeiro e nos conselhos municipais da cidade. Lá trabalhamos com jovens que estão tendo a oportunidade de participar e deliberar conosco na formação de políticas públicas.

Desde a criação desse comitê, nosso ponto principal é parar de naturalizar essas mortes. Queremos mostrar que as vidas negras de nossa juventude importam e, assim, estagnar os homicídios daqueles jovens negros que podem viver, pois consegui chegar lá e viver. Esse é o nosso principal objetivo, não há mais tempo para o discurso.

ET- Como você se tornou um líder?

TIA ERON – Como legislador, não posso perder o foco, perder de vista o que vou contribuir para a causa. Existem muitos mal entendidos que nos fazem perder o foco que realmente importa no debate. Só vou construir com dados, vou lutar porque tenho dados, tenho um problema e preciso lidar com esse problema através de políticas públicas. Essa é a proposta daquela comissão parlamentar instalada na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.

A questão é simples: um homem negro nasce condenado. A mãe negra já deu à luz uma criança condenada. Por quê? Em algum momento da vida desse jovem, ele estará sofrendo algum tipo de discriminação, preconceito, sexismo, violência, abuso por causa de sua cor de pele. Por que dizemos isso? porque existem dados e estudos que apontam isso.

O Brasil nunca normalmente lidar com os problemas de crime, família, violência doméstica doméstica, que ocorre em casa e deve ter segurança, mas a mulher torna-se vítima de seu marido, seu companheiro, amante, amigo. A justiça não foi alcançada nos tribunais ou tribunais, razão pela qual muitas mulheres recorrem aos tribunais internacionais. Onde há um conflito, você precisa ter uma lei para manter a ordem e a paz.

ET- O que lhe aconteceu depois que seu voto foi decisivo para o apelo de Eduardo Cunha?

TIA ERON- Não é fácil, não é uma decisão que alguém faça sorrir, com alegria, com prazer. É uma decisão que você deve parar, estudar, refletir, analisar e se preocupar. Dentro do próprio parlamento conformado por 22 membros, 18 deles tiveram processos, começando pelo próprio presidente do Conselho de Ética, que teve cinco. Meu discurso foi muito pedagógico, foi com o sentido de criar uma reabilitação daquele colega parlamentar. Havia uma mulher lá para resolver o processo mais longo da história do Brasil, e quem era aquela mulher? Nordestina, negra, viúva, de primeiro mandato, evangélica. Não há dúvida de que quando você tem uma mulher sentada em uma mesa de negociação, o negócio é diferente de quando ela é homem.

Eduardo Cunha foi importante. Ele teve sua coragem, um rei com seu potencial, mas comparado a um presidente da República do Brasil, ele não foi deixado para trás. Fui fazer o processo de cassação, ou então de absolvição, do presidente da casa mais importante do país que é a Casa Federal.

ET- Quem é Tia Eron no Brasil?

TIA ERON- Meu trabalho mobilizou muitas pessoas que acreditam que eu sou sua tia e criou um laço de afetividade comigo. É por isso que me chamam de sua tia, Tia Eron.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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