Bancada evangélica racha após manobra para reeleger presidente

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Enquanto o presidente Jair Bolsonaro recebia a bênção de um pastor em uma igreja evangélica de Manaus na última terça-feira (26), um racha em uma de suas principais bases de apoio se concretizava a cerca de 3.400 km dali.

Aliados do presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Silas Câmara (Republicanos-AM), mudaram o estatuto da bancada para possibilitar a reeleição do líder do ramo manauara da Assembleia de Deus -a mesma onde Bolsonaro foi a culto no Amazonas.

A mudança, feita em reunião esvaziada presenciada pela reportagem, causou rebuliço e escancarou uma disputa interna do grupo que é um dos principais aliados ideológicos de Bolsonaro no Congresso.

Deputados ligados a Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) acusam Silas Câmara e aliados de tentarem se perpetuar no poder e de mudar as regras do jogo no meio do caminho.

Já deputados ligados ao atual presidente dizem que a reeleição é desejo quase unânime da bancada e citam a preocupação com a possibilidade de Sóstenes, ligado ao pastor Silas Malafaia, ascender ao comando da bancada como uma das razões para a mudança.

O estatuto registrado pela frente em 27 de março deste ano diz em seu artigo 9º que cabe à assembleia-geral da bancada “eleger o presidente […] para o mandato de um ano, vedada a reeleição para a mesma legislatura”.

Na terça, um grupo de deputados, sob a batuta de Cezinha de Madureira (PSD-SP), se reuniu pouco depois das 17h. A lista de presença assinada aponta a participação de 6 membros (a frente tem 203 parlamentares em 2019).

Estavam lá Márcio Marinho (Republicanos-BA), Gilberto Abramo (Republicanos-MG), Vavá Martins (Republicanos-PA), David Soares (DEM-SP) e Vinicius Carvalho (Republicanos-SP), além de Cezinha.

Em menos de meia hora, mudaram a redação do artigo para permitir a reeleição por uma vez na mesma legislatura.

De acordo também com o estatuto, é preciso a presença de um terço dos membros para abrir uma reunião.

Mas há um mecanismo que permitiu a manobra. Como muitos congressistas apenas se registram, mas não participam, seria praticamente impossível iniciar uma assembleia com mínimo de 67 presentes. Por isso, o estatuto prevê que, após meia hora da primeira convocação, pode-se realizar a reunião com qualquer número de membros.

“Eles dizem que colocaram aviso no grupo de WhatsApp, mas não é assim que se convoca uma assembleia para mudança de estatuto. Quase ninguém ficou sabendo”, afirmou Sóstenes à reportagem. “Não poderia mudar no meio, deveria valer então só para o próximo.”

O deputado do DEM afirma ter solicitado uma reunião com o presidente da frente para a próxima terça-feira (3).

“Eu quero acreditar que ele fez de boa-fé. Eu fui o voto vencido quando propus o mandato de dois anos. Foi o Silas [Câmara] quem defendeu o mandato por um ano só”, disse.

É Silas Câmara quem assina o estatuto protocolado pela bancada neste ano –a cada nova legislatura, é preciso registrar novamente as frentes parlamentares, mesmo que elas não sejam dissolvidas.

Procurado, ele disse não ter informações sobre a mudança do estatuto e disse que a iniciativa não partiu dele. Também se recusou a responder se abriria mão de disputar um novo mandato para apaziguar os ânimos na bancada.

A reportagem entrou em contato com Cezinha. Ele disse que a reunião convocada teve trâmite normal e não quis responder às perguntas. “Só digo que 99,9% da bancada quer que o deputado Silas continue à frente dela”, afirmou.

A disputa entre parlamentares e as denominações religiosas está sendo um marco de 2019 na frente, a começar pela eleição para presidente.

Geralmente, os congressistas se uniam em torno de um único nome; no pleito deste ano, foram seis postulantes.

Integrantes da frente avaliam que a movimentação para manter Silas no comando está ligada à próxima eleição para presidente da Câmara.

O deputado é ligado ao presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP). Apesar de pouco atuante nas questões evangélicas, o bispo licenciado da Igreja Universal tem se colocado discretamente como candidato à vaga em 2021.

A cúpula do partido nega envolvimento na disputa.

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